sábado, 18 de setembro de 2010

CaioF.

"Não vou fazer rodeio nenhum para dizer que estou muito preocupado com você. como também não vou fazer rodeio para dizer que me senti muito magoado quando fui vê-la, no domingo. você me conhece um pouco e sabe que eu só voltaria a sua casa se não tivesse um mínimo de amor-próprio. ainda tenho, não voltei. em toda a sua atitude, você procurou deixar bem claro que estava-muito-ocupada-que-tinha-muitas-coisas-a-fazer-e-se-eu-quisesse-telefonasse-outra-hora. haja, não é? Entenda bem: não me veja tentando reatar uma história de amor já bastante espatifada (ou talvez sim, mas você não me deu chance e a coisa mais saudável que eu podia fazer era entrar noutra). Acontece que, com ou sem cama, gosto profundamente de você. e você, faz tempo que não está me dando chance de gostar de você. sem pedir coisa alguma, além de uma certa delicadeza, de um certo estar presente e não fugindo o tempo todo. não estou dentro da sua cabeça, mas acho que posso compreender um pouco pelo menos, a sua confusão e a sua dor com esse problema. mas escuta, chê: não é afastando as pessoas que te amam - como eu, por exemplo - que você vai se sentir melhor. repito que estou preocupado com você. fico pensando o dia inteiro, e querendo saber coisas, que você me escreva, que me ligue, que você me diga qualquer coisa para que eu possa estar do seu lado. você não está permitindo isso, e eu não estou sabendo como agir. entenda que eu quero estar com você, do seu lado, sabendo o que acontece. de repente me passa pela cabeça que a minha presença ou a minha insistência pode talvez irritá-la. então desculpa, não insistirei mais.

Eu queria dizer que eu estava com você, e a menos que você não me suporte mais, continuaria te procurando e querendo saber coisas. bobagens? pois é, se quiser ria como você costuma rir para se defender. não estou me defendendo de nada. estou perguntando a você se permite que eu tenha carinho por você, sua idiota.

Olha, não se sinta pressionada por nada disso. nada te obriga a responder nem nada. pode ficar em silêncio, se você tiver vontade. mas estou aqui, continuo aqui não sei até quando, e quando e se você quiser, precisar, dê um toque. te quero imensamente bem, fico pensando se dizendo isso, quem sabe, de repente, você até acredita. acredite.
Um beijo grande,
Caio.”

Trechos de uma carta de Caio Fernando Abreu.

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