sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Lugar Comum

Perdido nas horas, nos dias e semanas, só sabia sentir aquele vazio. Um vazio cheio, cheio de negligências, enganos, procuras, frustrações e esperanças. Sentia um desses vazios incomuns, que na verdade se mostravam cheios de coisas que não se podia pegar, olhar ou sequer perceber que estavam ali. É quando alguém encontra este tipo de vazio que inicia-se uma busca eterna por qualquer significado, por um grão de areia que lhe possa fazer sentir pertencente a um parque infantil onde se vê todos os dias sorrisos e satisfação, ou a uma praia, com corpos bronzeados e molhados. Com ele não foi diferente, seus dedos inquietos reviravam cada gaveta em busca de um bilhete qualquer que o fizesse achar parte de sua identidade, que o desse uma direção para um próximo passo, mesmo que vacilante. Esta busca por si, por prencher o que já está cheio, mas não se vê, não se sente, foi pouco a pouco consumindo seu corpo; primeiro seus dedos, que amarelaram devido ao abuso do fumo, depois seus dentes que amarelavam devido a mistura de alcóol, ácido fosfórico e nicotina, seguido de seu estômago que gritava a cada gole de coca-cola tomado ao levantar da cama. Sem um começo, ou um fim, ele foi seguindo assim seu coração vazio, ou seu vazio no coração, ou seu cheio vazio, ou seu vazio cheio, mas perseguiu o que não sabia de si, perseguiu o que não queria e por isso se perdeu na imensidão que encontrou em seu próprio interior... no que não sabia existir, no que nunca ousou tentar compreender e foi quando se perdeu ali que pôde então encontrar a plenitude que se sente ao estar completo, preenchido por um sentimento que apenas na hora certa se mostra existente, apesar de ter estado sempre presente. E foi em uma tarde qualquer, em um lugar qualquer, cheio de rostos desconhecidos e insignificantes, que ao tomar um gole do seu café, viu aquele vulto desconhecido e insignificante passar ao som de buzinas que o ameçavam de morte por cruzar a rua de forma tão descuidada. O vulto tomou forma e era uma forma que lhe agradava, simples, mas com essência, e a forma, não mais vulto, após as buzinas, continuou sua caminhada descuidada ao passo que sorria e balbuciava qualquer palavra de censura aos motoristas que ainda esbravejavam. Tomado de uma curiosidade nova, que pela primeira vez não se tratava do seu interior, mas do mundo que o circundava, observou cada movimento da forma, que mais tarde adquiriu nome, e consequentemente status e seguindo a ordem natural das coisas terminou adquirindo sentido e significado. Junto com isso veio a instrospecção intesa que o tomava nos momentos de vazio que ainda apareciam, e eram nesses momentos que ele se perdia, e numa dessas desventuras dentro de si, não achou o caminho de volta e aí foi quando chamou o vazio de solidão e só assim pode ver nesse vazio algo que sempre existiu em seu interior, mas ainda não conhecia. Foi quando chamou aquilo que sempre ocupou o vazio, mas não conseguia pegar, olhar ou perceber, de amor. E exatamente neste segundo que passou a ser um clichê, um cara como qualquer outro.