sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Assim,

Queria dizer que eu gosto de você, assim. Não aquele 'gosto de você' que costumava dizer no colégio para aquela menina com quem eu sonhava e fantasiava uma vida toda, mas sim um 'gosto de você' adulto. Encostaria de leve no seu braço, seguraria sua cintura com força para que nenhum pedaço de alma ou pensamento pudesse fugir dali e diria em bom som 'gosto assim de você'. Não significa que quero te beijar agora, muito menos que pretendo construir um futuro ao seu lado e quem dirá ter filhos, casa e cachorro. Só acho que seria importante dizer que faz bem segurar sua mão e que por hoje é suficiente, um suficiente calmo e tranquilo que não exige perspectivas ou projeções. É só isso, é só agora... é só a gente melhorando nosso dia com a simplicidade de um sorriso acolhedor e um abraço interessadamente desinteressado.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

um lado só.

Poderia discorrer sobre os jardins, as belezas, o que eu acho de mais lindo nisso tudo. Poderia usar da sutileza e dizer do rio e da margem para você saber: deixa que ele corre sozinho. Ou então poderia simplesmente dizer tudo na lata. Mas existem coisas que não precisam disso. Existem coisas que já sabemos, então nos resta dizer: não dá. Não dá porque não dá. Porque eu não quero. Porque eu não consegui sentir o que eu tinha que sentir. Não acho justo com você. Tocar nesse assunto é muito delicado, não preciso destrinchar. Dói. Poderia ainda falar tudo que gosto em você, tudo que me afia, tudo que me separa de dizer sim ou dizer não – mesmo quando quis dizer não. Mas você sabe o motivo pelo qual eu tomei essa decisão. Simplesmente não consegui. Não deu.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

CaioF.

"Você sabe que de alguma maneira a coisa esteve ali, bem próxima. Que você podia tê-la tocado. Você poderia tê-la apanhado. No ar, que nem uma fruta. Aí volta o soco. E sem entender, você então pára e pergunta alguma coisa assim: mas de quem foi o erro? (...) Você vai perguntar: mas houve o erro? Bem, não sei se a palavra exata é essa, erro. Mas estava ali, tão completamente ali, você me entende? No segundo seguinte, você ia tocá-la, você ia tê-la. Era tão. Tão imediata. Tão agora. Tão já. E não era. Meu Deus, não era. Foi você que errou? Foi você que não soube fazer o movimento correto? O movimento perfeito, tinha que ser um movimento perfeito. Talvez tenha mostrado demasiada ansiedade, eu penso. E a coisa se assustou então. Como se fosse uma coisa madura, à espera de ser colhida. É assim que eu vejo ela, às vezes. Como uma coisa parada, à espera de ser colhida por alguém que é exatamente você.
(...)
O erro? Eu dizia, pois é, o erro. Eu penso, se o erro não foi de dentro, mas de fora? Se o erro não foi seu, mas da coisa? Se foi ela quem não soube estar pronta? Que não captou, que não conseguiu captar essa hora exata, perfeita, de estar pronta. Porque assim como o movimento de apanhar deve ser perfeito, deve ser perfeita também a falta de movimento, a aparente falta de movimento do que se deixa apanhar. Você me entende?"

Caio Fernando Abreu

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Uns e Outros

Sentamos naquele banco em frente ao mar, ou ao lago, ou ao rio... mas definitivamente era um banco em frente a uma porção de água. Talvez tenhamos sentado na grama, na areia, na lama... sei que de certo sentamos. Os olhos não se procuraram, muito menos as mãos e mais distantes ainda ficaram os lábios. Não se tinha muito o que falar, na verdade nunca se tem o que falar quando um sente morrer e o outro tenta manter vivo pelos dois, e era assim que acontecia. Um sentia o coração torcido, de tanto ser apertado procurando um resto qualquer de sentimento, entusiasmo e até mesmo expectativa para procurar os olhos, segurar a mão e aproximar os lábios. O outro mirava o horizonte tentando deixar os olhos livres de sentimentos, tentando não transparecer a sensação de desespero que se espalhava como erva daninha ao notar que seus planos para as próximas férias, agora, eram só seus. Durante horas palavras macias foram jogadas e havia uma tentativa frustrada de falar sem magoar, de não culpar e não abandonar, mas no fim sabia-se que seria tudo tão duro e doloroso quanto possível. Apesar de um não ter mais motivos para estar ali, ele ainda sentia que seus sonhos teriam que ser reconstruídos outra vez, e isso dói até para quem não quer mais, afinal de contas, ele gostaria que tivesse sido diferente. E o outro queria ficar ali sem mais ninguém, para que pudesse sentir sua dor em paz, só que no desenrolar da conversa procurava qualquer tipo de incoerência que lhe trouxesse uma esperança de um não-fim. Sei que um não convenceu o outro que era melhor ir também, e o outro não convenceu um de ficar ali, traçando assim mais um desencontro dessa vida. Não sei quando levantei, ou quem estava ao meu lado levantou, sei que um foi, seguiu na estrada buscando sentir em outras circunstâncias tudo aquilo que já havia sentido um dia e não econtrava mais. O outro ficou, olhando a água como se olhasse pra dentro de si, procurando deixar lá no fundo essa dor que começava a cortar-lhe o coração, mas ficou ali, esperando a chuva chegar e lavar tudo aquilo que lhe impregnava a alma.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Magnetismo Conformacional

Vamos ter que encarar os fatos, não deu. Acontece que passamos por cima de algumas leis naturais. Concordo que os opostos se atraem, mas nem sempre se encaixam... De que adianta termos atração por sermos tão diferentes e não existir sequer um sítio de encaixe, um refúgio para nos escondermos quando começar a parecer que a ponte está envergando e a ligação se quebrando? Nada se parece, nem as feridas, nem as alegrias, nem os pensamentos, nem as amizades e quem dirá as filosofias. Apesar de nada encaixar, confesso que tentei, e continuei tentando mesmo quando não via mais via para o êxito. E taí, eu tenho muita dificuldade de desistir, de falar 'não deu', e espero sempre até o último minuto, quando o barco já está com água até o meu pescoço, para tentar pular fora... Deve ser por isso que sempre saio me afogando um pouco. Metáforas a parte, nossos imãs se atraíram, mas não se encaixaram e agora: let's face the truth... we have to move on.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

João-Bobo

Hoje traduziram meus conflitos em uma frase muito simples: "seus desejos são maiores que suas vontades". É, palavras acertadas, desejos rápidos, efêmeros e irracionais sempre sendo levados à frente deixando de lado minhas vontades pensadas, medidas, planejadas. Como se no caminho para colher as laranjas eu resolvesse sempre plantar ervas daninhas, mesmo sabendo que depois terei que não só arrancar as ervas daninhas, como esperar novamente todo o tempo de desenvolvimento até que as laranjas estejam novamente maduras e possam ser colhidas. Nessa irracionalidade me vejo então perdendo dias e dias, apenas nessa burra repetição de erros e acertos, sem sequer dar um passo para frente ou para trás, preso na medíocridade de quem não controla seus desejos e se perde no caminho de suas vontades.

sábado, 6 de novembro de 2010

Ímpeto

Quisera eu ter essa incrível habilidade de conter o impulso. Taí, impulsividade é algo que me define em grande escala. Um dia quem sabe ainda aprendo a deixar para amanhã, a não sair correndo porque eu quero agora. Até lá, não me afasta não, deixa eu tocar, deixa eu sentir... Deixa meu impulso te alcançar.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Morfí

Ando meio assim, trocando confidências comigo mesmo. Num surto de auto-sinceridade misturada com falta de controle sobre os meus próprios atos. Ora estou ali me criticando ávidamente e me prometendo mudanças, ora estou aqui novamente cometendo aqueles mesmo erros infanto-juvenis. A verdade é que a gente vai crescendo e endurecendo, perdendo a meleabilidade, se engessando e então vem toda aquela vontade de sair do casulo e criar asas. Daí que eu fico agora pensando como deve ser para a lagarta virar borboleta, a reclusão, a auto-reflexão e toda dor da solidão e das mudanças mais profundas possíveis que a permitirá voar livremente. A troca do hoje, do agora, pelo amanhã, pelo amadurecimento. Só me resta diante disso tudo aprender a constuir meu casulo e acreditar nas asas que estão querendo nascer.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Um dia antes de mim em 1986.

Entre tantos carros, tantos bancos de madeira, tantas pulseiras, tantas canetas, carimbos, plantas, nuvens e pão, entre tantas mães, tantas tesouras, tanto asfalto, tantos batons, tantos vermelhos, tantas linhas, lojas, buquês e músicas, tantos cafés da manhã, tantas abóboras, paçocas, tangerinas e tijolos você é importante para mim porque é você.