segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Uns e Outros

Sentamos naquele banco em frente ao mar, ou ao lago, ou ao rio... mas definitivamente era um banco em frente a uma porção de água. Talvez tenhamos sentado na grama, na areia, na lama... sei que de certo sentamos. Os olhos não se procuraram, muito menos as mãos e mais distantes ainda ficaram os lábios. Não se tinha muito o que falar, na verdade nunca se tem o que falar quando um sente morrer e o outro tenta manter vivo pelos dois, e era assim que acontecia. Um sentia o coração torcido, de tanto ser apertado procurando um resto qualquer de sentimento, entusiasmo e até mesmo expectativa para procurar os olhos, segurar a mão e aproximar os lábios. O outro mirava o horizonte tentando deixar os olhos livres de sentimentos, tentando não transparecer a sensação de desespero que se espalhava como erva daninha ao notar que seus planos para as próximas férias, agora, eram só seus. Durante horas palavras macias foram jogadas e havia uma tentativa frustrada de falar sem magoar, de não culpar e não abandonar, mas no fim sabia-se que seria tudo tão duro e doloroso quanto possível. Apesar de um não ter mais motivos para estar ali, ele ainda sentia que seus sonhos teriam que ser reconstruídos outra vez, e isso dói até para quem não quer mais, afinal de contas, ele gostaria que tivesse sido diferente. E o outro queria ficar ali sem mais ninguém, para que pudesse sentir sua dor em paz, só que no desenrolar da conversa procurava qualquer tipo de incoerência que lhe trouxesse uma esperança de um não-fim. Sei que um não convenceu o outro que era melhor ir também, e o outro não convenceu um de ficar ali, traçando assim mais um desencontro dessa vida. Não sei quando levantei, ou quem estava ao meu lado levantou, sei que um foi, seguiu na estrada buscando sentir em outras circunstâncias tudo aquilo que já havia sentido um dia e não econtrava mais. O outro ficou, olhando a água como se olhasse pra dentro de si, procurando deixar lá no fundo essa dor que começava a cortar-lhe o coração, mas ficou ali, esperando a chuva chegar e lavar tudo aquilo que lhe impregnava a alma.

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